Meditação 1º Sábado de Outubro de 2013

A autorrevelação de Nosso Senhor Jesus Cristo nas Bodas de Caná

 

Bodas de cana

Introdução:

Vamos dar início à meditação reparadora dos primeiros sábados, que nos foi indicada por Nossa Senhora, quando apareceu em Fátima em 1917. Pedia Ela que comungássemos, rezássemos um terço, fizéssemos meditação dos mistérios do Rosário e confessássemos em reparação ao seu Sapiencial e Imaculado Coração. Para os que praticassem esta devoção, Ela prometia graças especiais de salvação eterna.

Neste mês, celebramos a festa da Virgem Mãe Aparecida, nossa Padroeira. Ocasião propícia para meditarmos no milagre das Bodas de Caná, quando uma nova era na espiritualidade do gênero humano se inicia. Com o seu primeiro milagre público, além de conferir ao casamento um altíssimo significado, Jesus inaugura a mais excelente via para se obter o perdão e a graça: confiar na mediação e na onipotência suplicante de Maria.

Composição de lugar:

 Como composição de lugar, devemos nos reportar aos tempos de Cristo, e nos imaginarmos em plena festa de casamento, junto com os convidados. Estamos numa localização privilegiada, fitando o semblante de Cristo, que ouve atentamente sua Mãe, e esta, por sua vez, com seu olhar maternal e suplicante, roga-lhe um milagre.

 

Oração Preparatória:

 Pai nosso que estais nos céu…

Ave Maria…

Maria Auxiliadora, rogai por nós!

 

 

 

I – Antes e depois de Maria

 (Evangelho de São João 2, 1-12)

 Três dias depois, celebravam-se bodas em Caná da Galileia, e achava-se ali a mãe de Jesus. Também foram convidados Jesus e os seus discípulos. Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: Eles já não têm vinho. Respondeu-lhe Jesus: Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou. Disse, então, sua mãe aos serventes: Fazei o que ele vos disser. Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra para as purificações dos judeus, que continham cada qual duas ou três medidas. Jesus ordena-lhes: Enchei as talhas de água. Eles encheram-nas até em cima. Tirai agora, disse-lhes Jesus, e levai ao chefe dos serventes. E levaram. Logo que o chefe dos serventes provou da água tornada vinho, não sabendo de onde era (se bem que o soubessem os serventes, pois tinham tirado a água), chamou o noivo e disse-lhe: É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando os convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora. Este foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galileia. Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele.

1 – Riqueza teológica do Evangelho de São João

 “Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se fossem escritas uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever” (Jo 21, 25).

Assim termina São João o seu Evangelho. Quando ele o escreveu, por certo conhecia os Evangelhos de São Mateus, São Marcos e São Lucas. Porém ele se empenhou em escrever a história do Salvador com detalhes e aspectos mais necessários para os dias de sua divulgação. Na época, na Ásia Menor, a Igreja nascente via crescer uma seita perigosa: a dos gnósticos, que entre outros erros, negavam que Nosso Senhor Jesus Cristo fosse Deus.

Que um homem possa ser tão inteligente quanto um Anjo não é difícil imaginar. Mas admitir que alguém possa ser Criador e criatura ao mesmo tempo é algo que nem as criaturas angélicas poderiam conceber. Por isso temos o dom da fé, que nos permite crer naquilo que aparentemente é contrário à razão.

E foi bem esse o objetivo de São João em seu Evangelho, ou seja, expor os principais fatos e doutrinas de modo a servirem de base para a ação do Espírito Santo sobre as almas, ajudando- as a crerem em Jesus, Homem e Deus.

Na época, não havia computadores nem impressoras, os livros se reduziam aos rolos de pergaminho, a escrita era lenta e quase desenhada. Era, pois, indispensável a São João, em vez de fazer uma narração exaustiva, condensar em poucas palavras todo um universo de pensamento e considerações. Aqui está uma das razões pelas quais, na Escritura Sagrada, cada palavra é densa de significação.

2 – Os primeiros discípulos

São João inicia seu Evangelho com uma das mais belas descrições doutrinárias, e ao mesmo tempo poética, sobre a geração eterna do Verbo e a união das duas naturezas (divina e humana) na Segunda Pessoa da Santíssima Trindade: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nos” (Jo 1, 14). Nos seus dezoito primeiros versículos, São João sintetiza de maneira magistral a teologia católica relativa à divindade de Cristo.

Logo após, São João Evangelista se apoia no testemunho dado pelo Batista para confirmar toda a exposição feita anteriormente. A palavra de João Batista tinha peso de lei em Israel e ecoou mesmo além de suas fronteiras, ao longo de muitas décadas.

Na sequência, ele narra o chamado dos primeiros discípulos de Cristo: André, Pedro, Filipe e Natanael. Sabemos pelo Evangelho de São Mateus que na mesma ocasião Jesus também chamou para junto de Si o próprio São João e o seu irmão Tiago, filhos de Zebedeu.

Estes são os pressupostos para melhor se entender o primeiro e portentoso milagre do Senhor, nas Bodas de Caná.

 

II – O porquê do milagre

Frequentemente, os profetas no Antigo Testamento se viam na contingência de comprovar por algum prodígio a autenticidade de suas previsões. Assim se deu, por exemplo, com Moisés (Ex 4, 30-31), Elias (I Rs 18, 19-39) ou Samuel (I Sm 12, 16-18). Ora, depois de chamar os primeiros seguidores, quis o Mestre operar algo para confirmá-los na fé, como o fizera com Natanael. Foi provavelmente por essa razão que Jesus “manifestou sua glória”, efetuando seu primeiro milagre nas Bodas de Caná, ou seja, para levar seus discípulos a crerem na divindade de sua origem e missão (Jo 2, 11).

E assim procedeu devido a uma suave e afetuosa súplica de sua Mãe. O Evangelho ressalta o importante papel de intercessora de Maria e deixa entrever seu maternal carinho para com os futuros Apóstolos ali presentes. Era o começo da realização da promessa feita por Jesus a Natanael, três dias antes: “Verás coisas maiores do que esta” (Jo 1, 50). Seu intuito de robustecer até tornar inabalável a fé daqueles que o acompanhavam só atingiu sua plenitude com a descida do Espírito Santo. Antes disso, apesar de todas as maravilhas operadas pelo Salvador, essa virtude continuou sendo débil e imperfeita em todos eles.

Com despretensiosa simplicidade e vivacidade de colorido, São João descreve a cena da qual foi testemunha ocular, deixando transparecer a grande impressão por ela causada em sua própria alma e nas de seus companheiros.

1 – Por que durante a celebração de umas bodas?

Nesse solene começo da vida pública de Jesus, destaca-se de forma muito especial o fato de ter Ele escolhido uma festa nupcial como cenário do início de sua missão pública. O casamento não havia ainda sido elevado à categoria de Sacramento. Entretanto, não devemos nos esquecer seu alto significado na sociedade judaica de então, pois, além de ser absolutamente necessário, com vistas a continuidade da existência do povo eleito, era de um matrimônio legalmente constituído que deveria nascer o tão esperado Messias. As cerimônias de noivado (um ano antes), assim como as das núpcias, eram revestidas de grande solenidade e precedidas de contratos financeiros entre os pais dos cônjuges.

Por outro lado, Jesus estava iniciando sua missão pública e desejava fundar a Igreja com vistas à santificação de todos. Ora, a célula mãe da estrutura social sempre foi, e nunca deixará de ser, a família, como podemos constatar nas palavras de S.S. o Papa João Paulo II na Audiência Geral de 1/12/1999:

“A crise da família torna-se, por sua vez, causa da crise da sociedade. Numerosos fenômenos patológicos — indo da solidão à violência e à droga — explicam-se igualmente pelo fato de os núcleos familiares terem perdido sua identidade e sua função. Onde se desagrega a família, tende a desaparecer o entrelaçamento unitivo da sociedade, com desastrosas consequências para as pessoas, em particular as mais frágeis. (…)

“No Catecismo da Igreja Católica lê-se: ‘A família é a célula originária da vida social. É a sociedade natural em que o homem e a mulher são chamados ao dom de si no amor e no dom da vida. A autoridade, a estabilidade e a vida de relações dentro dela constituem os fundamentos da liberdade, da segurança e da fraternidade no conjunto social. A família é a comunidade na qual, desde a infância, se podem assimilar os valores morais, tais como honrar a Deus e usar corretamente a liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em sociedade’ (n.2207)”.

Nas Bodas de Caná, segundo a interpretação de numerosos teólogos e exegetas, Jesus quis reafirmar a importância conferida pela sociedade antiga à união conjugal e santificá-la, preparando assim as vias para dar-lhe o caráter sacramental.

2 – Oração de petição:

 

Oração da família cristã a Nossa Senhora

 

Santíssima Mãe de Jesus, Esposa do glorioso São José, Vós pertencíeis à Sagrada Família e nela tínheis grandes obrigações a cumprir. Ah! Senhora, que solicitude e cuidados tivestes na casa de Nazaré! Quantas tristezas pela pobreza de vossa família e pelos sofrimentos que isso poderia ocasionar a Jesus! Que diligência no trabalho, e que zelo na educação de vosso adorado Jesus. Já que conheceis tão bem as necessidades de uma família, escutai as súplicas que Vos dirige esta família que Vos pertence.

Ensinai-nos as virtudes que praticastes; socorrei e assisti nossas mães para que sejam em nossas casas o que Vós éreis na casa de Nazaré, a fim de que, imitando elas vossas virtudes, façam também a felicidade de nossas casas, como fizeste na Sagrada Família.

 

 

III – Os ensinamentos

1 – Súplica onipotente de Maria

Caná era uma cidade de maior tamanho e influência que Nazaré. A História nada registra sobre a origem das relações entre a Sagrada Família e os noivos, nem sequer por que Jesus e Maria foram convidados para a festa. As hipóteses a respeito se multiplicam. Entre elas, menciona-se um eventual estreitamento de relações, decorrente de serviços prestados por São José ao longo do tempo.

As peculiaridades e detalhes perderam- se pelo caminho, talvez por desígnio de Deus, a fim de concentrar a atenção dos séculos futuros na tão exemplar festa das núpcias de Caná. Ali está simbolizado o lar católico como deve ser, e indicada a conduta a seguir face aos problemas e dificuldades da vida. Ali está prefigurada a família cristã assistida por Cristo, através da intercessão de Maria. A partir desse episódio, todos os cônjuges, até o fim do mundo, devem firmar-se na certeza de que Jesus solucionará qualquer drama ou aflição, se invocarem a onipotente mediação de Maria.

2 – Harmonia conjugal

As épocas e os povos atingem seu esplendor quando a sociedade observa com rigor os princípios naturais e divinos relativos à constituição familiar. Este vasto e delicado assunto é de capital importância. Recordemos, a propósito, as palavras de sabedoria de um famoso Padre da Igreja, São João Crisóstomo:

“Ouve, marido, o que te pede São Paulo: ‘Amai vossas mulheres como Cristo amou a Igreja’ (Ef 5, 25). Viste qual é a medida da obediência? Pois igual deve ser a do amor. Queres que tua mulher te obedeça como a Igreja a Cristo? Pois ama tua esposa como Cristo ama a Igreja. Ainda que tenhas de sacrificar a vida por seu amor, ainda que tenhas de suportar mil padecimentos, não terás igualado nunca o que fez Cristo. (…) Ainda quando vejas que ela te despreza e te insulta, tens de submetê-la a teus pés com cuidado, com afeto e com amizade. Não há um laço mais forte que o do amor para conciliar o marido e a mulher” (Homilia 20, sobre a Epístola aos Efésios).

A harmonia conjugal torna perene, exemplar e frutuosa toda e qualquer atividade do marido ou da esposa; sobretudo, desse virtuoso entendimento se beneficiam os filhos. Por isso afirma o Eclesiástico (25, 1-2): “De três coisas se compraz o meu espírito, as quais têm a aprovação de Deus e dos homens: (…) um marido e mulher que se dão bem entre si”.

3 – Não buscar dinheiro ou beleza, ao casar-se

“Ditoso o homem que tem uma virtuosa mulher, porque será dobrado o número de seus anos. (…) A mulher virtuosa é uma sorte excelente, é o prêmio dos que temem a Deus e será dada ao homem pelas suas boas obras” (Eclo 26, 1.3). Muitos conselhos poderíamos colher da Escritura e da espiritualidade da Igreja sobre as qualidades do matrimônio e sobre o quanto deve ele basear-se na virtude e na santidade, e não em motivos inferiores como a beleza física e o dinheiro. Fazer consistir nestes valores as razões essenciais de uma união indissolúvel, é sinal de completa insensatez, pois a beleza física se desfaz com o passar dos anos e a riqueza de um cônjuge pode trazer muita aflição de espírito. Adverte-nos ainda o Eclesiástico: “Não olhes para a formosura da mulher e não cobices uma mulher pela sua formosura” (25, 28). “A mulher santa e honesta é uma graça inestimável” (26, 19-20).

4 – Por intercessão de Maria

E foi numa festa nupcial que, a pedido de sua Mãe, Jesus quis realizar seu primeiro milagre publico, para assim tornar patente aos olhos do mundo o quanto o matrimônio deve ser tomado como uma via de santificação para todos os que foram chamados para essa via.

Maria já se encontrava nas bodas quando chegaram Jesus e seus discípulos. Bem se pode imaginar a emoção da Santíssima Virgem ao conhecer os novos seguidores de seu Filho. Certamente Ela os tratou, logo de início, com um carinho maternal todo feito de amor. Ali começou a se explicitar sua proteção especial por aqueles que resolvem entregar-se a Nosso Senhor Jesus Cristo. O efeito que esse milagre teve sobre as almas dos Apóstolos não nos é dado a conhecer em profundidade, mas certamente abriu-lhes os olhos para começarem a ver quem os tinha chamado e começaram a crer n’Ele como narra São João. Podemos então conjecturar que Nossa Senhora pediu esse milagre, não apenas para tirar os noivos de um grande embaraço, mas também e talvez sobretudo, para favorecer a adesão dos Apóstolos a seu Divino Filho.

 

 

IV – A mediação eficaz e a onipotência suplicante de Maria

 

À margem do profundo respeito havido no diálogo entre Mãe e Filho, a narração de São João permite levantar uma conjectura. Não é impossível que, ao longo de 30 anos de vida doméstica permeada de afeto e mútua compreensão, o Filho tenha revelado à Mãe os grandiosos mistérios da Eucaristia. E, neste caso, Maria poderia ter pensado que havia “chegado a hora” da instituição desse Santo Sacramento e se inflamado no desejo de novamente receber em seu interior — já não como gestante, mas em sua Primeira Comunhão — o seu Filho, sob as Espécies Eucarísticas.

Ao lado de incontáveis hipóteses plausíveis, uma é inteiramente certa: Jesus operou esse milagre, por intercessão de Maria, para inculcar-nos a convicção de que, apesar de não haver chegado a hora, por uma palavra dos lábios da Mãe, Ele nos atenderá.

Eis que em Caná abriu-se uma nova era na espiritualidade do gênero humano, com a inauguração de um especial regime da graça.

Ademais, em Caná, Maria nos ensina algo muito importante. Numa análise superficial, parece inexplicável a atitude de Nossa Senhora, pois, apesar da negação de Jesus, Ela ordena aos criados fazerem tudo quanto Este lhes dissesse. Não havia Ele dito que não chegara ainda sua hora? Fica, portanto, em quem lê o Evangelho, a impressão de Maria não ter feito caso dessa resposta negativa.

Esclarecem-nos os teólogos ser esta atitude de Maria — à primeira vista um tanto obscura — uma excelente lição para nós. Nem todas as determinações de Deus são absolutas. Há algumas que são condicionadas aos desejos e reações nossas. Ou seja, elas se cumprirão ou não, dependendo da manifestação de nossas disposições. Se Maria não tivesse recomendado aos serventes que agissem de acordo com as orientações de Je­sus, os nubentes e seus convidados não teriam tomado o melhor dos vinhos da História, nem os Apóstolos assistido a tão grandioso milagre.

De onde se conclui ser importante rezarmos a Deus com fervor e constância, manifestando-Lhe nossas necessidades, pois é possível que Ele esteja à espera de nossa atitude para seguir uma ou outra via. Em Caná, aprendemos de Maria o quanto Deus quer a nossa colaboração em sua obra.

Devido a esse sublime papel de medianeira e de onipotência suplicante da Santíssima Virgem, que se inicia publicamente nas Bodas de Caná, talvez pudéssemos dividir a História da espiritualidade em duas grandes eras: antes de Maria e depois de Ma­ria.

 

Oração Final:

 

Salve Rainha

Salve, Rainha, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, salve! A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva. A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei. E depois deste desterro, mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria.

 

V/. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.

R/. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

 

Fonte:
APOSTOLADO DO ORATÓRIO
Arautos do Evangelho
São Paulo – SP

                 

 

 

 

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